07 abril 2012

Diário de Bordo-Chapada dos Veadeiros-Trip # 2

Data: 6 de setembro de 2008
Local: Parque Nacional da Chapada dos Viadeiros
Local de destino: Cânions 1 e 2
Local de partida: Povoado de São Jorge, 34km de Alto Paraíso de Goiás
Distância da trilha: 12 Km (ida e volta)
Altitude no início da trilha: 1030 metros
Altitude no destino: 918 metros (média)


Graus de dificuldade da trilha: Na média grau 2 (escala de 1 a 5) porém existem alguns pontos onde chegam a 3.
Equipamento fotográfico utilizado: Nikon D300 com lentes 18-200mm, 300mm e 10mm. um monopé com cabeça de engate rápido.


Uma coisa que aprendi nesse início de série de fotos da Chapada dos Viadeiros é não ter pressa. Não adianta sair para as trilhas querendo fotografar a Chapada inteira porque não vai ser possível. O Parque Nacional tem 65 mil hectares, é muito bem preservado e só se entra lá acompanhado de um guia credenciado. É preciso preencher uma ficha na entrada e, no caso de menores, preencher também um termo de responsabilidade. É cobrada uma taxa de entrada no valor de R$ 3,00.

Partindo de Brasília, se chega ao Povoado de São Jorge, distrito de Alto Paraíso de Goiás, em cerca de 2 horas e meia. A estrada é boa, de mão dupla e tem cerca de 10 km em terra. Existem várias opções de pousada no povoado e para todos os gostos e posses financeiras. No meu caso, fiquei na Pousada Trilha Violeta. Nada sofisticado, bem simples, mas agradável. O Hércules, um dos proprietários, pode ajudar dando dicas e acertando guia para saída ao Parque Nacional. Isso normalmente acontece no café da manhã. Detalhe: a entrada no Parque é permitida até às 11 horas. As voltas dos grupos também são programadas para no máximo até às 15 horas. Se o guia perceber que determinado grupo é um pouco mais lento na trilha o retorno é antecipado.

Os grupos normalmente querem chegar rápido aos locais, exatamente o oposto de quem quer fotografar, que pára, olha os detalhes, faz fotos de vários ângulos. Assim, até mesmo para não ficar com a sensação de estar atrapalhando o grupo ou ouvir alguma graça, acertei com um guia sem a companhia de outras pessoas. Lá na trilha constatei que tomei a decisão certa. O guia custa R$ 60,00 no total, que pode ser dividido pelo número de pessoas de um determinado grupo. Quanto mais pessoas, mais barato custa individualmente. Normalmente as saídas para as trilhas vão com grupos de 6 a 10 pessoas, o que sai para cada trilheiro R$ 6 a R$ 10.

Os guias são pessoas treinadas em primeiros socorros e têm informações detalhadas sobre fauna, flora e história do Parque Nacional. Também carregam celular para os casos de emergência em acidentes graves para contato imediato com a central do parque. Alguns guias são ex-mineradores de cristal que faziam exploração antes da criação reserva. Hoje estão distribuídos em associações diferenciadas pela cor da camiseta.

Existem duas trilhas distintas: os Cânions, que compreende os Cânions 1 e 2 e as quedas d´água Carioquinhas e os saltos de 80m e 120 metros. A segunda opção é a mais dura, com trilhas íngremes e passagens perigosas em pedras.

Embora a trilha dos Cânions também não seja lá muito fácil, optei por ela. Tem 12Km. (ida e volta). A dificuldade fica agravada com o forte calor e a baixa umidade relativa do ar nessa época (começo de setembro). Existem 3 pontos considerados ruins e não se deve esquecer que na ida temos descidas ótimas e que na volta vão exigir um esforço físico redobrado.

Fora o equipamento fotográfico, é indispensável levar um cantil com água e protetor solar. A vegetação do cerrado nessa trilha é árida e não produz grandes árvores com sombras refrescantes. Roupas leves e de preferência uma bota de cano médio ou tênis também com cano médio.
Por volta de 09h40 de sábado(6/9) entramos na trilha para os Cânions. Após cerca de 500 metros o guia avistou um tatu de porte médio. Cheguei a vê-lo mas infelizmente ele não quis posar para uma foto. Além do mais já estava fotografando com a lente de 10mm. Até sacar a 300mm, tirar uma e por outra, o tatu simplesmente desapareceu. Passamos por alguns pontos onde existiram exploração de cristal. Dá para imaginar um sujeito dentro de um daqueles buracos escavando com picareta e sob o forte calor do cerrado.

Um casal de franceses com outro guia chegou a ficar um bom tempo caminhando comigo e o meu guia, mas as minhas paradas para as fotos, como eu imaginei, fizeram com que eles se adiantassem. Um outro grupo de 8 pessoas também permaneceu junto, mas por pouco tempo devido às minhas freqüentes paradas para fotos.
Pela trilha é possível encontrar formações rochosas interessantes que vão compondo imagens conforme o ângulo em que se olha. Fiz várias fotos ao longo do caminho.

Existem também vários pássaros para serem observados e fotografados. Há guias especializados em pássaros e animais, mas, evidentemente não se pode misturar esse tipo de trilheiros com os grupos comuns que visitam a Chapada. Ao longo da trilha é possível observar fezes do lobo guará, abundante na região. Os machos demarcam seu território dessa forma. Segundo o meu guia também é abundante a existência de cobras principalmente a cascavel que se abriga entre as rochas e pedras.

Para os grupos, antes de entrar nas trilhas os guias fazem uma palestra com várias recomendações, entre elas é para que as pessoas não se afastem das trilhas. A precaução tem como motivo principal, além da segurança pessoal para que não se perca do grupo, evitar que tenha um encontro indesejável com uma cascavel ou qualquer outra cobra que habite a região. A cascavel é uma das mais peçonhentas e ao se aproximar de uma delas dá como sinal o sacudir de seu chocalho. Isso se alguém não der o azar de pisar em uma.

Ao longo da trilha é possível observar algumas pontes que estão em um plano elevado em relação ao caminho que se percorre. Elas são utilizadas no período das chuvas quando se formam rios que não existem no período das secas. O cenário no tempo das chuvas é totalmente diferente, me garantiu o guia. É muito mais fácil percorrer as trilhas com a temperatura mais amena e a Chapada se cobre de verde.

Alguns poucos trechos exigem mais esforço e escaladas em rochas. São nesses momentos que a câmera e lentes começam a pesar. O ar quente e o sol escaldante contribuem para agravar ainda mais o cansaço. Muitas vezes é preferível encontrar uma sombra e dar uma paradinha estratégica para recuperar o fôlego e tomar alguns goles de água. É claro que pode forçar, mas não esqueça da volta.
O relógio marcava 11h47 quando chegamos nas proximidades do Cânion 1 em um lugar conhecido como para descanso e reabastecimento de cantis. Já havia se passado pouco mais de 2 horas desde a nossa saída. O guia estimou que as nossas paradas, totalizadas, somaram meia hora porque a trilha normalmente é percorrida em uma hora e meia em ritmo normal. No local fiz várias fotos. Nesse período de seca com pequenos riachos se formam piscinas naturais maravilhosas. Uma vegetação no topo das rochas faz uma agradável sombra para o sol escaldante do meio-dia.

Mais uma caminhada de 300 metros sobre rochas e chegamos finalmente ao Cânion 1 do Rio Negro. Uma paisagem sensacional. Logo após a última queda no Cânion se forma uma piscina natural e profunda. É bom lembrar que no período das chuvas o local onde estou fotografando é coberto de águas correntes fortes. Dá uma sensação incrível estar dentro desse cânion.
O sol escaldante e o ar quente derrubam qualquer um. Seguimos para o Cânion 2 onde tem que se caminhar 1 km sobre as rochas. Foi, sem dúvida, a pior parte da trilha porque o caminho se dá por vários níveis de rochas. Era 13h44 quando chegamos em mais este cenário maravilhoso da Chapada dos Viadeiros. Lá de cima vimos um grupo retornando. Duas pessoas desse grupo, adiantados, vieram conversar conosco e contaram que haviam desistido de ir até o último ponto da trilha devido ao calor muito forte. Enquanto conversávamos uma das pessoas desceu o cânion para se refrescar em uma piscina natural. O sujeito devia estar com insolação e sem noção. Dez metros adiante onde ele queria descer existia a última queda do cânion. Uma queda de mais de 30 metros que terminava em pedras. Simplesmente ele seria levado pela corrente de água até a queda. O meu guia gritou para ele parar de descer e voltar. Felizmente o sujeito parece que acordou. Quando o meu guia mostrou a ele o que ele iria fazer quase entrou em choque. Ele só pensava em aliviar o calor e não percebeu o risco que corria.

Decidimos voltar dali porque o calor estava insuportável. Você pegava água do rio para o cantil e em menos de 5 minutos ela estava morna. As poucas sombras que existiam entre as rochas refletiam o calor das pedras. Com todo esse esforço físico a volta foi extenuante sob o sol forte. Precisávamos chegar até a trilha principal e quando olhei no GPS quanto faltava para chegar até ela desanimei. Algumas vezes não é bom saber das coisas. Mas lá fomos nós pegando uma trilha ligeiramente íngreme, mas que parecia ter noventa graus. O guia se ofereceu para carregar meu equipamento, mas se mostrava extenuado também. Um simples colete de fotógrafo parecia pesar 100 quilos, o que dizer de câmera e lentes.

Eu vinha pensando em tudo o que fosse possível para dar ânimo. Os belos cenários, as fotos compensavam o esforço. O sol não dava trégua. De vez em quando uma nuvenzinha o cobria por poucos instantes. Eram momentos de energia. Na ida chegamos a atingir 6 km/hora agora atingíamos índices baixíssimos de 600 metros/hora. Na ida o mínimo havia sido 1,5 Km p/hora. Fiquei preocupado quando o guia pediu para parar. Mas foi bom. Tivemos uma conversa animadora sobre comer no restaurante da D. Nenzinha e tomar uma cerveja bem gelada. Foi a conta. Chegamos na portaria do Parque Nacional às 15h45. Claro que voamos para comer e tomar aquela gelada.
Ficam aqui algumas lições:
- Embora a paisagem seja fantástica, é bom não se arriscar a carregar muito equipamento fotográfico nessas trilhas no período de seca e que ocorre nos meses de agosto e setembro.

- Mesmo assim, se for para conhecer nessa época, no máximo levo a minha Cybershot.
- O período das chuvas ocorre de outubro a abril e é, sem dúvida, mais adequado.

No total foram quase 400 fotos - algumas delas compartilho no Flickr. Antes de chegar ao povoado de São Jorge parei na estrada para fazer algumas fotos para pós-processamento em HDR (High Dynamic Range) e algumas delas também estão postadas no Flickr todas agrupadas em um mesmo álbum.

Para ver álbum com fotos postadas no Flickr clique aqui

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